O Circo

  E lá estava Angus. Ele já tinha visto de tudo, mas agora, olhando aquela garota... não sabia o que pensar.

  Angus morava com sua mãe em uma humilde casa em um lugar frio. Mesmo estando no verão, o sol quase não brilhava e o clima era gelado, tão gelado que saía fumaça de sua boca. Ele tinha mais ou menos 13 anos, alto, cabelos curtos e escuros e era simpático. Gostava de caminhar na praia no verão. E, como todo garoto da sua idade, gostava de alguém. 

  Naquele verão, um novo circo havia aberto na cidade e, é claro, todos estavam muito ansiosos para visita-lo. O folheto dizia claramente que haveria palhaços, aberrações do mundo, bailarinos, mágicos e qualquer coisa que alguém gostaria de ver naquela época.

Angus queria levar a linda Caroline lá, no circo. Ela adoraria. Era uma menina que qualquer um daria de tudo para ter: seus cabelos eram ruivos, tinha meigas sardas salpicadas pelo nariz, e usava sempre vestidos encantadores, embora não exagerados.

No dia de estréia do circo, Angus vestiu sua melhor roupa de domingo, e antes de sair de casa, sua mãe o puxou, lhe deu um beijo e disse:

- Cuidado, meu filho! Não fale com estranhos nem se machuque!

- Está bem, mamãe, está bem. - disse Angus, soltando-se dos braços da mãe.

O menino buscou Caroline em sua casa, cumprimentou o pai dela e, juntos, saíram em direção ao circo. Eles conversaram antes do show começar e, quando este começou, todos ficaram muito quietos.

- Olá, olá, criançada! Prontos para ver o que lhes esperam? Então vaaaamos lá! - disse um palhaço animado no meio do palco.

E o show continuou com tudo o que havia prometido. Os meninos riram, se encantaram e até ficaram com medo em alguns truques de mágica. Foi simplesmente incrível para Angus e Caroline.

Depois do show, eles saíram e deram uma volta pelo parque. O céu estava ficando escuro enquanto estavam na roda-gigante e, quando desceram, Angus pediu para a garota esperar perto do carrossel pois ele tinha uma surpresa.

- É agora, agora que vou declarar meus sentimentos para ela... tem que ser agora! Já esperei uns dois anos... - disse Angus a si mesmo.

Então, ele tirou uma rosa do bolso e caminhou em direção ao carrossel. Ele estava suando. Ela estaria lá, com seu vestidinho rosa claro, segurando o enorme ursinho de pelúcia branco que ele conseguiu para ela em um jogo do parque. Qual seria sua reação? Será que ele levaria um tapa na cara? Um abraço? Ou algo a mais...?

E, para sua surpresa e desgraça, ela não estava lá. Girou o carrossel mas não estava. E foi aí que notou: o parque estava vazio. Para onde foram todos? Aquelas gritarias, a felicidade? Será que fora fechado e ele estava preso?

Algo o chamou como um sussurro. Angus olhou para os lados mas não havia ninguém. Algo o chamou de novo e ele percebeu que vinha do carrossel. Quando ele olhou para cima, tomou um susto: uma coisa, não uma coisa, mas sim uma garota estava lá, que parecia alguns anos mais velha que ele, mas tinha uma aparência estranha. Sua pele era a mais branca que ele havia visto na vida, usava uma maquiagem de palhaço, mas eram cores mortas em vez de vivas. Seu cabelo era azul muito claro, quase branco e, para completar, seus lábios eram bem vermelhos e estava sujo de algo vermelho também. Seria sangue...?

Ela sentou-se na borda do carrossel e o menino percebeu que segurava um ursinho, o ursinho grande da Caroline, agora manchado de vermelho. Ela disse, com uma voz áspera e fina:

- Olá, pequeno ser. O que faz aí?

- Com licença, senhora, mas... esse urso é da minha amiga! O que a senhora...? - disse Angus, hesitando. A mulher pulou do carrossel e passou suas unhas grandes e coloridas de preto na pele de Angus, que sentiu um arrepio. Logo após isto, ela abraçou-o e sussurrou em seus ouvidos:

- Cuidado, meu filho! Não fale com estranhos nem se machuque...

Postado por: Pessoa064