sábado, 10 de agosto de 2013

Veneno

  Ah, como era ruim essa sensação. Aquele líquido descendo em suas veias, percorrendo cada canto de seu corpo, fazendo seu sangue ficar frio. Aquela sensação de frio e de tontura. 
  Como era estranho aquela sensação de enxaqueca, e sua garganta queimando. Como era estranho aquele sofrimento. Era muito menos doloroso se fosse um tiro na cabeça, mas não, eles queriam faze-lo sofrer. Então, começaram as tremedeiras. Aquela era uma forma tão sem graça de morrer, claro, para quem assistia. Quem realmente vivia a dor, não estava suportando, e o pior que era dentro de seu próprio corpo. Aquele frio que incomodava, a tontura, tremedeira, tudo. Mas ninguém assistia ele. Ele só ficava ali trancado, na sala escura, sem câmeras nem nada. Não estava mais suportando aquelas sensações. Se ao menos pudesse se matar logo...
  Antes de não poder mais se controlar, pensou em sua família. Sua esposa, seus dois filhos, até seu cachorro. Eles iriam caça-los, iriam matar todos. Eles morreriam com aquela mesma sensação que ele vivia naquela hora. Eles desmaiariam, os levariam de carro. Trancariam cada um deles nas mesmas salas escuras e vazias, sem câmera nem nada. Eles ficariam ali por dois dias, sem comer, nem beber e sem sair. Depois seriam um pouco espancados, até alguma parte de seus corpos sangrar. Eles todos chorariam e se perguntariam se alguém os salvaria daquilo tudo. Eles sentiriam raiva por tudo aquilo estarem acontecendo com eles, pessoas boas de uma sociedade injusta. E, por fim, depois daqueles dois dias, receberiam um sanduíche cada um. Talvez um misto quente com presunto ou um sanduíche completo: com salada, carne, talvez batatas fritas para acompanhar. O fato que não mudaria é que todos os sanduíches teriam uma pílula e todos a engoliriam e nem perceberiam. Depois de duas horas, eles começariam a ter dores fortes de cabeça e tontura e se perguntariam o que estava acontecendo. Depois de terem tonturas e tremedeiras, saberiam que o sanduíche que ganharam era uma farsa. Depois, pensariam em seus últimos momentos de vida. Será que pensariam no pai? Perdoariam ele por ter os arriscado em uma coisa como aquelas? Eles nunca saberiam que ele sente muito. 
  Seus espasmos começaram e flshs da sua família passavam por sua mente. O dia em que seus filhos ganharam o cachorro. As datas especiais e comemorativas. O dia em que seu filho mais novo nasceu. O dia em que seu filho mais velho nasceu. O dia em que se casou. O dia que conheceu sua mulher. O dia que ficou bebado pela primeira vez. O dia em que perdera seus pais e o resto. 
  O que vinha depois da morte? O que esperava ele? 
  Enquanto tinha seus espasmos e uma baba branca saía de sua boca, ele literalmente, ele olhava a luz. Uma luz branca e forte, mas não tão forte a ponto de cega-lo. Ele viu uma figura negra, com asas grandes e negras também. Ela o fitou um pouco. Ela causava medo à ele, mas ele não conseguia correr. Ele não poderia fugir. Todos aqueles anos ele acreditou em tudo. No papo de Deus existir, e nos anjos. Mas era algo muito diferente do que ele pensou. A figura se aproximou e tudo ficou escuro. Ele desmaiou.
  Só vê quem acredita.

Postado por: Pessoa064



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